Mau humor é coisa séria

Você certamente tem um amigo, conhecido ou familiar que parece estar sempre de mal com a vida: Mesmo boas as noticias são recebidas de forma negativa e nada parece deixa- ló feliz. Muito provavelmente, ele é simplesmente tachado de mal-humorado. Mas não é bem assim: Irritação e pessimismo constantes é uma doença e merecem tratamento.

Característica de personalidade e história de vida influenciam nosso estado de espírito, além de substâncias cerebrais que regulam esse setor. Mas, por trás de mudanças de humor frequentes podem estar também questões emocionais como depressão e ansiedade.

O psiquiatra Leonard Verea, autor do livro “ Eu não sou Assim, estou assim! ” (Ed. Scor Tecci), diz que o mau humor permanente é uma doença chamada distimia: “Reconhecida pela medicina nos anos 1980, a distimia pode ser um problema isolado, um tipo de depressão crônica leve, ou algum transtorno de personalidade, é uma doença causada por mau humor crônico e influencia não só a vida do paciente como também das pessoas que convivem com ele.”

A diferença, segundo o especialista é que enquanto a pessoa com depressão grave fica paralisada, quem tem distimia continua tocando a vida, mas esta sempre reclamando. “Só enxerga o lado derrotista de tudo e não sente prazer em nada. O distimico lamenta até se ganha na loteria. Não fica feliz, porque começa a pensar em efeitos negativos, como ser alvo de assaltos e sequestros”, descreve.

O médico diz que esse transtorno mental afeta ao menos 10 milhões de pessoas no mundo. “Quando não tratadas, elas tendem a se isolar. A doença não deve ser subestimada, pois o portador corre o risco de desenvolver quadros de depressão sérios”, alerta.

Muitas vezes é difícil perceber a presença dessa disfunção. Para a maioria dos pacientes, o mau humor constante é um traço de sua personalidade. A desculpa pela rabugice recai sempre no ambiente ao redor, o que inclui o tempo, o chefe ou a sogra, por exemplo.

Os distímicos em geral são amargos, de difícil relacionamento, com baixa autoestima e elevado senso de autocrítica. Reclamam de tudo, são agressivos e só enxergam o lado negativo dos fatos. A irritabilidade com tudo e todos e a impaciência são sintomas frequentes que incomodam eles mesmos. Também são altamente estressados, contaminado todos ao seu redor e gerando prejuízos pessoais e familiares importantes. A capacidade produtiva fica afetada, assim como a agilidade mental.

“ É importante ficar atento porque o cenário, quando persistente, acaba trazendo prejuízos em todas as esferas da vida. O distúrbio prejudica as relações afetivas e a percepção geral do universo ao redor, impedindo que a pessoa se relacione de maneira satisfatória com seus semelhantes. Há uma tendência a ver a vida com maior pessimismo, além de menor tolerância à frustração e mais impulsividade. Uma das consequências desses comportamentos é a solidão: familiares, amigos e colegas vão se afastando aos poucos”, descreve o psiquiatra.

Outra consequência possível é o consumo de álcool e drogas: o doente pensa que, dessa forma conseguirá se livrar da irritação. Em muitos casos, é necessário buscar tratamento especializado.

“…Existem atividades que melhoram, ampliam e flexibilizam a cognição, influenciando nosso estado de espírito. Tais dinâmicas são empregadas no trabalho terapêutico com pacientes que sofrem de transtornos dessa ordem, e também naqueles que desejam melhorar o humor de maneira global. Os avanços são significativos, “ diz o médico.

E se o mau humor não é somente um traço da personalidade, mas um distúrbio, é importante procurar ajuda profissional para ser feliz – e aproveitar o que a vida oferece de bom.

 DICAS PARA MELHORAR O HUMOR

Para mal-humorados eventuais, algumas medidas podem ajudar:

  • Busque o autoconhecimento: dessa forma, você compreenderá melhor a si mesmo, favorecendo sua qualidade de vida e suas relações afetivas, o que terá consequências sobre o humor.
  • Reserve um tempo para se exercitar: após a atividade física, o cérebro libera endorfina e outras substâncias que estimulam o humor positivamente, dando sensação de prazer e bem-estar.
  • Procure dormir bem: descansar ajuda a regular a vida fisiológica e mental.
  • Aprenda a dizer não: é uma ótima ferramenta. Priorize o que é essencial, assim, terá mais alegria, sabendo que está se dedicando a suas prioridades.
  • Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje: isso evita muito desgaste. Os sentimentos predominantes, quando postergamos tarefas, são de incapacidade e frustração. O ideal é organizar-se e fazer tudo com antecedência. É sempre bom ter método e planejar o cotidiano, permitindo que as ações sejam realizadas sem estresse. Quando sentir que a irritação está a caminho, relaxe a mente e o corpo, sem se deixar levar pela agitação. Respire e expire calmamente, afastando os pensamentos negativos.
  • Nada de ser control freak: não tente controlar tudo, pois isso é impossível. O mau humor também está ligado a personalidades centralizadoras, pessoas que querem comandar o entorno e se sentem incapazes por não dar conta disso.
  • Não leve trabalho para casa: a vida precisa ser dividida em três momentos: tempo para o trabalho, para você mesmo, “com seu eu interior”, e para sua diversão e troca com amigos. Não subtraia nenhum dos três.
  • Adote uma alimentação saudável: é básico, para viver bem, estar feliz com o próprio corpo e sem problemas de saúde.

 

 DIFERENTES PERSONALIDADES

Pessoas mal-humoradas podem ter características específicas e diversas.

  • Frustrado: não confia em suas capacidades. Vive em um estado de raiva impotente, acumula energia sem coloca-la para fora, alimentando o mal-estar. Sente dores musculares como artrite e cefaleias. Pode apresentar cansaço crônico ou somatizações variáveis.
  • Ácido: despreza tudo, esconde e desvaloriza o que lhe dá medo. Manifesta-se por meio de críticas, sarcasmos e maldades. Doçura e gentileza não fazem parte do seu repertório. Julga e critica posturas alheias. Seu mau humor nasce de mecanismos de defesa: no fundo, tenta destruir e desvalorizar tudo o que lhe causa medo. De forma geral, afasta todas as oportunidades de crescimento e mudança. O estômago é a parte do corpo que mais sofre, com gastrites, úlceras, acidez e alergias.
  • Raivoso: coloca-se no papel de vítima, tem a fronte enrugada e olhar severo, alimenta uma raiva estável para com tudo e todos. Sua postura agressiva o põe sempre na defensiva, pronto a lutar e a reivindicar injustiças e faltas. Tem uma visão distorcida da realidade, daí a tendência a se perceber como vítima e a buscar sempre fora as causas do seu mal-estar. É mais suscetível a problemas cardiocirculatórios, hipertensão e infarto.
  • Amargurado: está sempre acompanhado por uma sensação de resignação dolorosa. Os olhos e o rosto têm expressão melancólica e triste. Sem energia, sem gás, sofre por desilusões. Diferente do raivoso, que é pró-ativo, o amargurado é passivo e conformado com o seu fracasso. Sofre com uma dor surda de quem não aceita a realidade, mas abre a mão da possibilidade de modifica-la. A distorção entre a sua fantasia e a realidade é tão grande que dificulta sua possibilidade de aproveitar o que a vida lhe deu de bom. Desenvolve uma visão pessimista da vida, que o torna saudoso e passivo, vítima da infelicidade que o condena. Está sempre querendo confirmar sua visão de mundo e, por isso, desqualifica tudo que poderia muda-la. É facilmente acometido por patologias autoimunes, doenças que atacam as células saudáveis do organismo e abrem as portas para a depressão.

FONTE: les Nouvelles Esthétiques -Ano XXVII – Nº149 – Fevereiro – pág. 80-83

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