ROSÁCEA SOB CONTROLE

Qualquer problema na pele, e, sobretudo no rosto, causa constrangimento e atrapalha o convívio social. Com a rosácea, doença vascular inflamatória crônica da pele, não é diferente. Mas é possível evitar crises com alguns cuidados de rotina e tratamento.

Ela surge de forma abrupta. De início, as bochechas ficam avermelhadas, há sensação de calor persistente na testa, nariz e queixo. A dermatologista Claudia Marçal diz que a cor avermelhada, uma de suas características, resulta de uma alteração no fluxo sanguíneo dos capilares, vasinhos existentes na face. Algumas vezes, ela se manifesta também nas bochechas e nariz.

“O aspecto é semelhante a teias de aranhas (chamadas de spider), visíveis a olho nu, principalmente nas bochechas. Ocorrem, ainda, sensação de calor e pequenos pontinhos de pus. Com o passar do tempo, se não houver tratamento, o quadro pode se intensificar e se tornar frequente,” diz a médica.

A rosácea se manifesta, sobretudo em mulheres na faixa dos 30 aos 50 anos. Doença autoimune – quando o sistema imunológico ataca e destrói tecidos saudáveis do corpo – existem fatores-gatilhos tanto para o surgimento do quadro quanto para seu recrudescimento.

Sua causa ainda é desconhecida, mas há forte predominância hereditária. Porém, a doença piora, por exemplo, com o consumo de bebida alcoólica, alimentos quentes e comidas com temperos picantes. “Estresse, situações de raiva ou constrangimento, exercícios físicos intensos, sauna, banhos quentes e exposição excessiva ao sol também influem, assim como o uso de cortisona e de alguns medicamentos, como antidepressivos. Histórico de acne grave é outro fator que pode intensificar os sintomas”, esclarece a médica.

DIFERENTES MANIFESTAÇÕES

A rosácea pode ser classificada em cinco tipos: fimatosa, ocular, granulomatosa, eritemato-telangectasia e pápula-pustular. Cada um se apresenta clinicamente com alterações específicas.

No caso da fimatosa, ocorre aumento da espessura da pele e inflamação das glândulas sebáceas, que acabam produzindo excesso de sebo, o que dilata os poros. Essa gordura, assim como o processo inflamatório desencadeado é essencial à vida de um ácaro oportunista, o Demodex Folliculorum, que se instala, sobretudo na região nasal. Ela fica aumentada e, algumas vezes, apresenta deformidade em sua estrutura. Esse tipo é mais comum em homens acima dos 40 anos.

No tipo ocular, percebe-se uma descamação e um avermelhamento na região ciliar, chamada de blefarite. Há necessidade de consultar um oftalmologista, pois o quadro é progressivo e pode levar á perda da acuidade visual.

Já no tipo granulomatosa ocorre a formação de nódulos acastanhados na face. A pele apresenta uma alteração de textura e relevo, trazendo por vezes alterações estéticas importantes. “Esse é o tipo mais difícil de tratar,” diz a especialista. No caso da eritemato-telangectasia, a pele fica muito vermelha e cheia de vasos. E, por fim, no tipo pápula-pustular, além do avermelhamento, surgem lesões, como espinhas.

De acordo com a dermatologista Claudia Marçal, a pele da rosácea é bastante sensível e reativa. Normalmente, o fototipo europeu clássico de pele clara e olhos claros é o mais predisposto a ter a doença. Ele também se caracteriza por grande sensibilidade ao calor e aos cosméticos em geral.

“Por causa da inflamação dos capilares, pequenos vasos sanguíneos, a pele com rosácea responde de modo muito rápido e com piora do quadro diante de estímulos químicos – sabonetes com pH diferente da pele, produtos com fragrâncias, conservantes ou pigmentos, por exemplo – ou físicos como mudança brusca de temperatura, o que acentua a vasodilatação e a produção exagerada de sebo pelas glândulas sebáceas, gerando mais irritação e inflamação.

“Quase sempre, o controle terapêutico e a melhora dos sintomas são dificultados pelo Demodex Folliculorum, parasita que vive na flora da pele e se aproveita desse meio ideal para se reproduzir nos folículos capilares e glândulas sebáceas,” esclarece a médica.

OPÇÕES TERAPÊUTICAS

O tratamento da rosácea abrange desde a escolha de produtos para pele sensível e reativa, que a mantenham bem hidratada, mas contenham pouca gordura, até, por vezes, o uso de antibióticos.

“Essas escolhas terapêuticas são feitas caso a caso, de acordo com o tipo de pele e a apresentação do quadro. A época do ano também influi: no verão tende a haver uma piora, pois o calor aumenta as glândulas sebáceas. Os filtros solares, por exemplo, devem ser de preferência, inorgânicos, de toque seco ou com textura fluida. De modo geral, os cosméticos devem ser livres de fragrâncias artificiais e parabenos. No caso dos antibióticos, são indicados os derivados das ciclinas, como tetraciclina e minociclina, ou mesmo os retinoides, como isotretinoina via oral,” orienta a especialista.

A rosácea não tem cura, mas é possível mantê-la sob controle com tratamento adequado e cuidados diários. Usar sempre bloqueador solar, evitar cosméticos ácidos ou que contenham álcool e optar por maquiagens hipoalergênicas testadas para pele sensível são algumas recomendações.

“Também é importante evitar o uso de saponáceos na higiene do rosto e borrifar a pele com água termal sempre que possível, pois ela é rica em minerais, como zinco, cobre e manganês. Outro recurso que pode e deve ser utilizado é a maquiagem corretiva com pigmentos verdes para atenuar a vermelhidão característica. Ela deve ser aplicada antes da base e do pó facial”.

Em consultório, os tratamentos incluem luz intensa pulsada em sessões seriadas, a cada trinta dias, para tratar a textura cutânea e fazer o controle das glândulas hipersecretoras. Para eliminar os vasos ectasiados (excessivamente dilatados), que provocam vermelhidão e queimação, são utilizados o laser.

A rosácea é um problema incômodo e frequente nos consultórios dermatológicos. No entanto, são muitos os recursos disponíveis para manter a doença sob controle, proporcionando mais conforto aos pacientes. No verão, é preciso especial cuidado para evitar a exposição excessiva ao sol e ao calor, um dos gatilhos para as crises.

Fonte: Revista Les Nouvelles Esthetiques, ed. 143, pag. 39

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