A banalização da estética

A divulgação de produtos e tecnologias que teriam capacidade de nos manter imunes à passagem do tempo, associada à supervalorização da juventude, aumentou muito a procura por tratamentos estéticos e, também, o número de profissionais interessados em ingressar nesse mercado. Por conta disso, alguns critérios estão sendo esquecidos, o que compromete a qualidade dos serviços prestados.

As promessas são tentadoras: Clínicas anunciam equipamentos capazes de eliminar a flacidez após algumas aplicações, institutos de depilação se dizem aptos acabar definitivamente com os pelos, enquanto cosméticos prometem eliminar rugas.

Na mídia em geral, e também nas redes sociais, onde ‘pacotes’ oferecem limpeza de pele, peeling de diamantes e máscara de colágeno por preços irreais, a banalização da estética torna-se evidente.  “Qual será a procedência das substâncias utilizadas num tratamento como esse e qual a qualidade dos equipamentos? Serão certificados pelo órgão pertinente?”, questiona a esteticista Vânia Lima. Ela observa que a tecnologia necessária para produzir e veicular ativos cosméticos realmente eficazes (como a nanotecnologia e os lipossomas) é sofisticada e dispendiosa.

Especializada em medicina preventiva e estética, a médica Suzana Oliveira diz que dois aspectos devem ser considerados: a busca por soluções milagrosas e o superdimensionamento dos resultados. “Não raro, pessoas solitárias ou com baixa autoestima acreditam que uma melhor aparência vai mudar suas vidas. No entanto, usar produtos sem orientação e submeter-se a tratamentos com profissionais sem a necessária qualificação é um risco para a saúde”, alerta.

Quem se sente bem consigo mesma pode se ver mais bonita do que realmente é. Por outro lado, muitas pessoas sofrem de uma distorção da autoimagem: embora magras, se veem gordas, por exemplo.

A psicóloga Ana Canosa diz que a pressão da sociedade, que elegeu um determinado padrão de beleza, também influi. “Sobretudo as mulheres procuram consumir todo tipo de medicamento, tratamento e intervenção que possa deixá-las parecidas com uma atriz de TV. Nessa busca desesperada, muitas não se certificam sobre profissionais ou produtos: vale tudo pela tentativa de atingir um determinado padrão e ficar mais atraente”, conclui.

Padrão de qualidade é inegociável

A drenagem linfática é um bom exemplo. Embora sua função seja “ajudar a eliminar líquidos estagnados”, como esclarece a esteticista e diretora pedagógica do Instituto Ibeco, Maria Helena Rossi, muitos leigos acreditam que ela tem diversas aplicações, como fazer emagrecimento. “É o procedimento mais polêmico realizado por esteticistas, justamente porque são comuns informações errôneas sobre o assunto na mídia, gerando uma grande procura”, diz.

A esteticista ressalta que a drenagem linfática “só deve ser executada por profissionais altamente capacitados e com grande conhecimento a respeito dos sistemas circulatório e linfático”.

A técnica, muito utilizada no pós-operatório por combater fibroses e seromas, pode justamente ocasioná-los quando aplicada por profissionais inaptos, como explica a Dra. Suzana Oliveira: “Existem, também, contraindicações, como estado febril (doença aguda) e tumores malignos de disseminação linfática. O profissional despreparado pode até disseminar uma doença pré-existente”.

Em relação aos peelings, outro tratamento muito comum no dia a dia das clínicas de estética, é preciso preparar o paciente corretamente e esclarecê-lo sobre os cuidados a serem tomados antes e depois. “É necessário analisar o fototipo, definir o objetivo e tipo de procedimento mais indicado (se químico ou físico), por exemplo. A escolha de um profissional capacitado é fundamental para evitar infecção e até cicatrizes”, ressalta a médica.

O combate à banalização começa pela postura do profissional que não deve em hipótese alguma, baixar seu padrão de qualidade. “Podemos oferecer mimos ao cliente, mas não podemos fazer promoções que impliquem baixar a qualidade dos serviços prestados, utilizando ativos de marca de segunda linha ou de eficácia não comprovada, por exemplo. O uso do material descartável é obrigatório, pois representa segurança para o profissional e o cliente”, destaca Vânia Lima.

Nessa empreitada, o conhecimento técnico é fundamental: uma vez capacitado e consciente de suas responsabilidades, o profissional de estética torna-se um agente de combate à banalização de sua atividade.

Boa formação é o primeiro passo

A diretora pedagógica do Instituto Ibeco diz que as boas escolas oferecem grades curriculares bem estruturadas, que visam a profissionalizar e também a conscientizar os profissionais que pretendem ingressar na carreira. Ela aconselha os candidatos a visitar pessoalmente a Instituição, de forma a conhecer a estrutura e o conteúdo programático do curso proposto.

“Um trabalho ético e bem feito fideliza clientes e resulta em destaque no mercado de trabalho. Como em qualquer área, também no segmento de estética existem profissionais bons e ruins. No entanto, os maus não se estabelecem por muito tempo, pois a exigência dos clientes é cada vez maior”, ressalta marina Helena Rossi.

“É essencial investir na fidelização da clientela, o que exige a prestação de bons serviços. Não se deve prometer o que não é possível cumprir”, lembra Vânia Lima. “Para ser bem sucedido, todo tratamento precisa da participação do cliente. Não há como tratar a flacidez ou reduzir medidas sem praticar exercícios e mantendo uma alimentação inadequada. Cuidados básicos de higiene e hidratação são indispensáveis para melhorar a aparência da pele. Finalmente, não podemos parar o processo de envelhecimento. Tudo isso deve ser bem explicado antes”, conclui.

Fornecer ao cliente todas as informações de que ele necessita para optar pelo tratamento proposto é o primeiro passo para construir uma boa relação com ele, expandir os negócios e combater a banalização dos procedimentos estéticos.

Saiba avaliar um bom profissional da estética

– Ele procura aprimoramento constante?

– Trabalha somente com ativos e equipamentos sobre os quais tenha pleno domínio e conhecimento?

– Testa os procedimentos antes, nele mesmo, de preferência?

– Explica com clareza e domínio sobre o assunto como será o tratamento, como agem os produtos e os equipamentos que ele utiliza em você?

– Trabalha com uma equipe tão bem preparada quanto ele?

– Submete a sua equipe a reavaliações e reciclagens? Estimula e facilita o aprimoramento da sua equipe?

– A sua propaganda é ética, séria e honesta?

– Oferece expectativas de resultados realistas?

– Qual é a sua postura e como ele reage diante de intercorrências ou de um resultado menor que o esperado? O que ele faz para resolver o seu problema?

– Ele consegue avaliar, detectar e corrigir condutas antes do final de um tratamento para alcançar os resultados pretendidos? Explica para você com detalhes o ‘como’ e o ‘porquê’ desses ajustes?

– Após uma avaliação ele sabe apontar, entre as várias técnicas e recursos possíveis, qual e porque determinada conduta é a mais adequada para você?

Como você pode se proteger

– Procure um profissional reconhecido, bem recomendado ou indicado por alguém de sua confiança. Informe-se mais sobre ele.

– Observe as instalações da clínica: Organização, limpeza, higiene, conforto e privacidade. A preocupação do profissional com pequenos detalhes reflete a sua preocupação com a saúde e o bem-estar do cliente.

– Verifique se as máscaras, luvas, lençóis e outros materiais são descartáveis e se os utensílios são higienizados de forma adequada.

– Desconfie de promoções que prometem demais: Não existem milagres! Os custos operacionais e os investimentos necessários em capacitação e equipamentos não são baixos para uma Clínica de Estética. Quando determinado procedimento estético é oferecido por um preço muito pequeno é sinal que a relação de consumo não está bem equilibrada entre o cliente e o profissional. Fique atento!

– Não faça tratamentos por impulso: O bom profissional de estética não ‘encanta’ o cliente. Ele informa, indica, esclarece e deixa você a vontade para refletir e se decidir com plena certeza sobre a realização ou não de um procedimento.

– Tire todas as dúvidas antes de se submeter a qualquer procedimento;

– Lembre-se de que a saúde vem sempre antes da beleza, e que as duas caminham juntas.

Referência

Les Nouvelles Esthétiques,  Abril de 2013

Consultores

Dra. Suzana Oliveira, médica especializada em medicina preventiva e estética; Maria Helena Rossi, esteticista, pós-graduada em fisiologia do exercício, diretora pedagógica do Instituto Ibeco; Ana Canosa, psicóloga; Vânia Lima, esteticista.

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